O governo quer transformar os cerca de R$ 15 bilhões em dívidas
tributárias das universidades brasileiras em bolsas de estudos para
estudantes do ensino público. Todas as universidades - públicas,
filantrópicas e particulares - com dívidas tributárias federais serão
contempladas pelo mecanismo, inserido na Medida Provisória (MP) 559, que
deve ser votada amanhã no Congresso Nacional. A medida é considerada
prioritária pela presidente Dilma Rousseff, que incumbiu a ministra
Ideli Salvatti, de Relações Institucionais, na noite de quarta-feira, da
missão de aprovar a MP ainda nesta semana.
A engenharia para permitir a troca do passivo tributário das
universidades em bolsas de estudo inclui uma moratória de um ano para as
universidades, que entraria em vigor imediatamente, de forma a permitir
às universidades a certidão negativa de débito. Apenas com isso as
universidades poderão se inscrever no Prouni, cujo prazo vence na semana
que vem.
Com a moratória e o sinal verde para obtenção de bolsas junto ao
programa federal, as universidades terão o equivalente a 90% de suas
dívidas com a Receita Federal automaticamente transformadas em bolsas de
estudos. Apenas 10% do passivo tributário total, cerca de R$ 1,5
bilhão, continuarão sendo devidos em espécie, e as universidades terão
15 anos para pagar - a dívida será corrigida anualmente pela taxa básica
de juro (Selic). Ao todo, o governo estima atingir mais de 300 mil
estudantes com o programa.
A proposta do governo será incluída no texto final da MP 559, que
trata da federalização da Companhia Energética de Goiás (Celg), que será
apresentado hoje pelo deputado Pedro Uczai (PT-SC), relator da medida
provisória. Uczai foi acionado na quarta-feira pela ministra Ideli com
pedido de urgência. Com o prazo para inscrição das universidades no
Prouni próximo de vencer, o governo quer acelerar a votação no
Congresso.
O mecanismo de transformação do passivo tributário em bolsas de
estudo foi criado por técnicos dos ministérios da Fazenda e da Casa
Civil e apoiado por Dilma, em reunião no Palácio do Planalto, na
quarta-feira, segundo uma fonte no governo.
Ao Valor, Uczai afirma que a medida estabelece um
"novo marco no tratamento de dívidas tributárias". Segundo Uczai, que é
professor universitário, "praticamente todas as universidades" têm
dívidas tributárias, e, para a maior parte delas, o pagamento é
"complicadíssimo". Apenas as universidades catarinenses, afirma Uczai,
devem cerca de R$ 1 bilhão ao Fisco. Uczai cita os casos de
universidades públicas, como a Unisul (SC), filantrópicas, como a
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), e particulares,
como Estácio de Sá e Anhanguera - todas serão beneficiadas pela medida,
caso aprovada.
Com a renegociação de dívida, as universidades poderão ampliar não
apenas a participação dos bolsistas do Prouni, como também a utilização
de recursos do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). "As
universidades sairão da asfixia por dívidas para um cenário em que terão
alunos e recursos movimentando sua vida acadêmica", afirma Uczai.